O trabalho de análise

A psicanálise é um método clínico de tratamento que tem um efeito terapêutico, este método consiste em escutar o paciente no que há de singular em sua fala e no que se manifesta nele sem que se dê conta, inconscientemente. Ao falar em análise, numa relação onde o paciente autoriza que seu analista o escute, pode fazer o sintoma deixar de existir.

O paciente pode ter dificuldade em falar sobre seu sofrimento, sobre sua história, assim, para que o trabalho da análise produza seus efeitos, é condição que ocorra algo que se chama transferência, ou seja, o paciente reproduz nesta relação com o analista, o que ele viveu nas suas relações com figuras de autoridade que se manifesta em forma de amor, ódio, reconhecimento, respeito… Isso que se passa na análise ultrapassa a relação dual entre analista e analisando, há um elemento terceiro concebido através da linguagem, que permite que o analista ajude a criar formas de atravessar o sofrimento do paciente, Lacan conceitualiza este terceiro como o Outro, o grande Outro (escrito com maiúscula). É um trabalho feito com a palavra, a partir da fala do paciente, e o instrumento de trabalho do analista é sua escuta.

Existem vários tipos de terapias, suas diferenças tem a ver com as linhas teóricas que fundamentam suas práticas. Muitas delas trabalham com a eliminação de sintoma ou, nessa impossibilidade, com a conciliação do sujeito e seu sintoma.

No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do vervo estava no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.

A criança não sabe o verbo escutar não funciona para a cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.

E pois.

Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer nascimentos –
O verbo tem que pegar delírio.

 

Manoel de Barros – O Livro das Ignorãças

Em medicina, um sintoma indica a presença de uma doença e, com o tratamento médico (geralmente medicamentoso), deve ser eliminado. Em psicanálise, o sintoma aparece de diversas maneiras: pode se manifestar no corpo (dores, alergias, doenças autoimunes, contraturas musculares…), pode se manifestar como compulsões, manias, medos… Entretanto não é possível ficarmos ligados apenas a estas manifestações sintomáticas pois, apesar do paciente sofrer, perceber que algo não está bem, o que faz com que ele sofra nem sempre está explícito e pode ser reconhecido. O sintoma seria um tipo de arranjo que cada um faz para lidar com o sofrimento, exprime algo da vida que não foi possível de ser simbolizado, portanto não pode ser dito. O sofrimento tem estrutura narrativa, ou seja, quando há um sofrimento presente, necessariamente há uma história a ser contada. Um sintoma pode aparecer justamente no lugar de uma dificuldade de transformar algo que faz sofrer em narrativa, algo impede o sujeito de falar.

Se o sintoma for eliminado com uma medicação, por exemplo, se mantem a impossibilidade de poder transformar o sofrimento em palavra; a medicação poderia preservar o sintoma psíquico.

Um dos efeitos das primeiras entrevistas da análise é de apaziguamento, pois o paciente é acolhido pela escuta do analista e é convidado a falar daquilo que o faz sofrer. Através desta escuta o analista ajuda o paciente a construir uma narrativa do seu sofrimento.

Já nas primeiras entrevistas, o analista propõe ao paciente a Associação Livre, que ele fale o que lhe venha à cabeça, mesmo que num primeiro momento, pareça irrelevante, absurdo ou sem sentido. Há também o convite para que o paciente se deite no divã de maneira que haja a dispensa do olhar um do outro, o que torna a fala mais propícia à escuta tanto do analista como a do próprio paciente. Tanto a Associação Livre como o uso do divã são questões técnicas que foram criadas por Freud, técnicas que revelam o protagonismo da fala no trabalho de análise. Evidentemente que a postura do analista para o desenvolvimento deste trabalho é a de não julgar o que é dito pelo paciente e de garantir o sigilo do que é falado em sessão.

A análise tem o início, seu percurso e um fim. Trata-se de uma experiência ética que implica um cuidado de si, entretanto, ao longo do seu desenvolvimento, a transferência acaba, a relação que o paciente tem com seu analista é idealizada e ao final, esta idealização dá lugar à possibilidade de seguir na vida sem o analista, sem o artifício da análise. O sujeito passa a ser analista na sua própria vida e é a própria análise que vai criando as condições de sua prescindibilidade.

A ideia aqui foi apresentar de forma resumida como ocorre tecnicamente num trabalho de análise, entretanto trata-se de uma experiência para ambos envolvidos, é um trabalho em conjunto que se aproxima da arte, no sentido em que conta com a palavra e com o inesperado.

O trabalho de análise

A psicanálise é um método clínico de tratamento que pode ter um efeito terapêutico, escutando o paciente no que há de singular em sua fala e no que se manifesta nele sem que tenha essa percepção. Saiba Mais...

Primeira entrevista

O contato para se marcar uma primeira entrevista pode ser feito por chamada telefônica, whatsapp ou e-mail. Saiba Mais...

Supervisão clínica

A supervisão é dirigida para profissionais que praticam a clínica da psicanálise. Saiba Mais...

Grupo de estudos

Como atividade de divulgação da psicanálise, vamos iniciar estudo em conjunto sobre textos de Freud e Lacan. Saiba Mais...